A importância da vacinação ao longo da vida e o seu contributo essencial para a prevenção de doenças e internamentos esteve em destaque na conferência “Vacinação ao longo da vida | Saúde e investimento no futuro”, que decorreu hoje, 23 de Abril, no Centro Cultural de Belém (CCB).
Mostrando o impacto directo das vacinas na redução de casos de doença grave, a secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, fez um balanço da primeira campanha de vacinação contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que decorreu entre Outubro e Março para crianças em idade pediátrica. A introdução da vacina permitiu reduzir em 85% os internamentos em bebés até três meses de idade, em 40% até aos seis meses e em 25% até aos dois anos, adiantou.
Referindo-se aos 14 casos de sarampo registados desde o início do ano — dos quais oito em pessoas não vacinadas —, a governante alertou para o risco de extremismos e populismos em torno da vacinação. “É um tema que leva à polarização de opiniões”, afirmou Ana Povo, reforçando a necessidade de “desligar de populismos”, sob pena de se colocar em risco a saúde pública
Na sua intervenção, a secretária de Estado referiu-se também ao acordo recentemente assinado entre a Indústria Farmacêutica e os Ministérios das Finanças, Saúde e Economia para sublinhar a “visão política” do Governo sobre o futuro do país, com a tónica na sustentabilidade do sistema de saúde, mas sem perder de vista a “inovação e o desenvolvimento estratégico”.
É preciso “acompanhar o apoio ao desenvolvimento da Indústria Farmacêutica”, acrescentou, “uma visão não só de Portugal, mas da União Europeia, pois a pandemia mostrou-nos o quanto é importante termos recursos suficientes”.
Por seu lado, a directora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, evidenciou os 60 anos do Programa Nacional de Vacinação (PNV) e os “ganhos da vacinação para as pessoas”, tendo ainda realçado a aprendizagem feita com a COVID-19.
Também o presidente da APIFARMA, João Almeida Lopes, saudou o aniversário do PNV e a “sinergia de todos os envolvidos nesta história de sucesso”. Almeida Lopes recordou o acelerado envelhecimento demográfico da população portuguesa, que implica crescentes desafios de sustentabilidade para o sistema de saúde. Neste sentido, destacou o papel da imunização enquanto “instrumento de prevenção primária da doença”.
Calendário para adultos no PNV
A necessidade de elaborar um calendário específico para adultos no PNV foi outro dos temas em debate na conferência. Esta posição foi, nomeadamente, defendida pelo médico António Diniz, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e por Sara Cerdas, consultora da Organização Mundial de Saúde para a Europa e ex-eurodeputada. “O PNV é mais virado para as crianças, mas é fundamental pensar na vacinação ao longo da vida”, defendeu, por seu lado, Cristina Lopes, representante da APIFARMA, alertando que “investir agora é prevenir encargos no futuro”.
A secretária de Estado da Saúde não recusou a ideia, apesar de recordar que o PNV já contempla vacinas de adultos. “Não quer dizer que não se deve actualizar no caso da vacinação ao longo da vida”, disse Ana Povo. No mesmo sentido, Natália Pereira, chefe da equipa Unidade de Vacinas, Imunização e Produtos Biológicos da DGS, adiantou que está a ser feita uma “grande reformulação” do PNV, designadamente tendo em conta o objectivo da vacinação ao longo da vida. É necessário, porém, “garantir a sustentabilidade das medidas, assim como a disponibilidade”, advertiu, acrescentando que não se pode introduzir uma vacina num ano e “no próximo não ter verba para ela”.
Ainda neste âmbito, o presidente do INFARMED, Rui Santos Ivo, recordou também a importância de promover a literacia em saúde e António Luz Pereira, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, alertou para a necessidade de aproveitar a ida dos utentes a consultas para fazer a vacinação. Para que tal aconteça, sustentou, é necessário reforçar os meios humanos nos cuidados de saúde primários e assegurar o abastecimento de vacinas, alertando para alguma dispersão de ‘stock’ na última época vacinal. Sandra Cavaca, presidente da SPMS concordou, tendo destacado a importância de contratos plurianuais para aquisição de vacinas.
Foi ainda reforçada a necessidade de vacinação da comunidade migrante e o impacto desta medida na comunidade. A presidente da Associação Nacional de Farmácias, Ema Paulino, lembrou as possibilidades trazidas pelas farmácias para esta vacinação. “Entram 500 mil pessoas por dia nas farmácias. Em teoria, num mês, veríamos toda a população”, disse Ema Paulino.
A intervenção das farmácias comunitárias na vacinação dos cidadãos foi um dos aspectos mencionados por Vera Leal Pessoa, da direcção Nacional dos Médicos de Saúde Pública, ao comentar a apresentação de Anna Vicere, directora associada da Vaccines Europe, cuja intervenção centrou-se nas oportunidades para as políticas de saúde pública no acesso da população às vacinas. Anna Vicere realçou as diferenças que existem na aprovação de vacinas entre os países europeus.
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