As empresas farmacêuticas cumpriram uma missão fantástica ao conseguir desenvolver vacinas eficazes e seguras em menos de um ano. Todas as vacinas contra a Covid-19 aprovadas utilizam tecnologias complexas, de base biotecnológica. A robustez destes processos de produção é crítica para garantir a qualidade, a segurança e a eficácia destas vacinas.
Portugal tem capacidade para produzir vacinas contra a Covid-19?
Todas as vacinas contra a Covid-19 aprovadas, ou em fase avançada de aprovação, utilizam tecnologias complexas, de base biotecnológica. A robustez destes processos de produção é crítica para garantir a qualidade, a segurança e a eficácia destas vacinas. Além disso, estes processos de produção só podem ser levados a cabo por técnicos e operadores altamente qualificados, quase inexistentes em Portugal. São graus de especialização que requerem formação, requerem muito tempo. Em Portugal são poucos os recursos com essas competências e não há actualmente capacidade industrial de biotecnologia para produzir vacinas Covid-19. Mesmo na Europa e no Mundo esta capacidade biotecnológica é muito limitada face há necessidade imensa para vacinar a população mundial.
A acrescentar à complexidade e requisitos referidos há ainda a questão do tempo de produção. Processos de base biotecnológica são demorados, e dependendo da plataforma de produção podem ser de 2, 3 ou 4 semanas. Todas estas exigências e os tempos de produção complicam-se ainda mais quando se amplia a escala de produção. Há ainda a questão do fornecimento das matérias primas necessárias. De um momento para o outro, as necessidades mundiais de todos estes componentes aumentaram exponencialmente.
Qual a razão para as farmacêuticas não alargarem a produção a outros locais, de forma aumentar a produção, reduzindo os atrasos nas entregas?
As empresas farmacêuticas cumpriram uma missão fantástica ao conseguir desenvolver vacinas eficazes e seguras em menos de um ano. Notável conquista da ciência só possível face ao continuado investimento em Investigação ao longo de décadas. Mas conseguir quantidades gigantescas de vacinas provenientes de processos biotecnológicos complexos e demorados, exigindo robustez e scale up destes processos, não é exequível dum dia para o outro. Processos demorados de 2 a 4 semanas, a validação destes processos biotecnológicos em locais distintos, com equipamentos diferentes e equipas diferentes, representam um desafio monumental nunca antes sentido. De realçar que nunca se tinham feito estes processos nestas escalas. E o aumento de escala tem, per se, desafios acrescidos.
Por se tratar de uma emergência mundial, seria possível suspender as patentes, de forma a aumentar a produção?
Não se trata de suspender patentes, trata-se de conseguir replicar com robustez, segurança e eficácia, processos biotecnológicos demorados e altamente complexos. É para responder a esse gigantesco desafio que as empresas farmacêuticas estão a estabelecer parcerias para a produção destas vacinas.